Qual César nós (re)conhecemos?

Maria Wyke – Caesar: A life in Western Culture
(Granta Books, 2007)

Os trabalhos da professora Maria Wyke são conhecidos pela forma criteriosa como ela estabelece as conexões entre o mundo Romano e a contemporaneidade. Desde “Projecting the past: Ancient Rome, Cinema and History” (Routledge, 1997) suas obras têm se destacado na área de estudos de recepção do passado clássico, em especial, a análise das representações cinematográficas. Em “Caesar: a life in western culture”, a professora da University College of London vai além e expõe como, ao longo dos séculos, a imagem de César tornou-se o epicentro de uma série de apropriações históricas, fomentando as mais variadas releituras deste personagem por parte da cultura ocidental.

Ao longo da obra, dividida em nove capítulos (cada um relacionado a uma característica atribuída a um período marcante da vida do general romano), Wyke se propõe a responder quais fatores levaram César a se tornar o mais famoso dos romanos. A autora aponta como, embora a sua biografia e morte trágica tenham colaborado para que sua figura se cristalizasse em um personagem a ser rememorado, o próprio César teve um papel essencial na construção dessa imagem ainda em vida, imagem da qual ele era extremamente zeloso.

Assim, por meio de extensa pesquisa, Wyke nos conta como o general romano teve sua vida recriada em diferentes momentos históricos, formando um caleidoscópio de imagens nem sempre convergentes: inspiração dramática para as obras de Shakespeare, líder submetido pelo desejo por Cleópatra, militar cruel ou vítima de uma terrível conspiração. Destacando como a biografia do líder romano é marcada por intensa polarização, a autora demonstra como esta foi utilizada ora como modelo de conduta (em especial no que se refere às vitórias militares), ora como exemplo a não ser seguido (considerando a sua tumultuada vida pessoal), e, por muitas vezes, base para a criação de narrativas ficcionais na literatura, cinema e arte, as quais passam a fazer parte da tradição clássica e marcar a forma como nos relacionamos e reconhecemos o mundo antigo.

  • Lorena Pantaleão


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