
No Paraná do início do século XX a elite curitibana buscou símbolos e tradições grandiosas, visto que o estado conseguiu sua independência de São Paulo só em 1853 e assim não fazia frente a outras importantes regiões do país. Afinal, não tinha uma forte economia e não possuía uma identidade própria do “Ser Paranaense”. Essa necessidade em criar uma identidade ficou conhecida como Paranismo ou Movimento Paranista.
Nesse movimento, além da elite, participaram diversos artistas, os quais criaram obras de acordo com suas ideias do que demonstraria as características imponentes da região. Entre elas observamos principalmente a estilização do pinhão, do Pinheiro do Paraná e da erva-mate, mas também combinações desses com símbolos estrangeiros, como por exemplo, com os antigos gregos e romanos. Esse é o caso da personagem citada no título do presente texto, o Bento Cego, ou Homero Paranaense/Antoninense.
Conhecemos a personagem Bento Cego a partir da revista Illustração Paranaense[1], periódico publicado no estado entre 1927 e 1930. Nela descobrimos que Bento nasceu na cidade de Antonina-PR e é chamado de Homero, pois também seria cego; era um contador de histórias assim como o grego; e saia pela cidade a cantar, só que em vez de lira, ele tocava viola[2]. Observamos ainda no livro Bento Cego[3], escrito em 1902 por Nestor de Castro, a comparação física entre Bento com o que os paranistas imaginavam que seria o Homero Grego: ambos teriam a compostura varonil e cabelos longos e pretos caindo aos ombros.
Tal ligação com os clássicos não é a única encontrada no Paranismo. E na medida em que os paranistas consideravam os antigos grandiosos, comparar um símbolo importante do folclore paranaense – chamado na Illustração Paranaense de “o maior bardo sertanejo do Paraná” – com outro da Grécia Antiga contribuía para fortalecer essa identidade em construção. Elevando, assim, o Paraná ao mesmo “nível” da cultura da Grécia Antiga.
- Barbara Fonseca
Referências:
[1] Revista Illustração Paranaense. Edição nº5 – 6, 1929.
[2] TURIN, Elisabete. A arte de João Turin. Campo Largo: Ingra, 1998.
[3] CASTRO, Nestor. Bento Cego. Arquivo Municipal de Antonina.
PEREIRA, Luis Fernando Lopes. Paranismo: o Paraná inventado: Cultura e imaginário no Parana da I Republica. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1998.