Entrevista e Convite para Live: Lorena Lopes da Costa

Olá gente! Esperamos que todos estejam bem!

Começamos 2021 com uma novidade! Ao longo desse ano iremos realizar lives em nosso canal do Youtube com estudiosos e estudiosas da Antiguidade. A primeira delas será dia 27 de abril, às 19 horas, com a Profa. Dra. Lorena Lopes da Costa, título “Os Antigos, a violência e a literatura de João Guimarães Rosa”.

Todo mundo está convidado! Para participar basta se inscrever no seguinte link: Formulário de Inscrição.

Cartaz de divulgação no Instagram.

Junto do evento, também retomamos as entrevistas do Blog!

Para conhecermos um pouquinho mais sobre a autora, segue abaixo a ótima entrevista de Lorena Lopes da Costa, professora da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).

Quando você decidiu que queria estudar o mundo antigo? Como foi esse processo?

Li O Espelho de Heródoto de François Hartog e a Invenção de Atenas da Nicole Loraux fazendo uma das disciplinas optativas da graduação do Prof. Dabdab Trabulsi, em que líamos também muitas fontes antigas. Decidi estudar Grécia Antiga e a língua grega em consequência desse contato, de leitura e da sala de aula. O Dabdab, que se tornou meu orientador no Doutorado, e o Hartog, durante um período de estudos na França, são peças-chave na minha decisão, presentes desde os primeiros passos

Quais são os seus livros favoritos? (antigos ou contemporâneos sobre os antigos)

A Odisseia é, certamente, um dos meus livros favoritos. O poema faz uma reflexão profunda sobre narrar o passado, por meio de várias possibilidades: o aedo que invoca a Musa para narrar todo o poema;  Demódoco que a invoca também para contar o que Odisseu poderá confirmar; Fêmio, que conta o que não é verdadeiro; Odisseu, que conta as suas próprias memórias; as sereias, que sabem não só o que se passou mas o que se passará… É muito impressionante ver uma reflexão tão profunda sobre essas possibilidades narrativas ser feita sem prejuízo de um estória que nos enreda, com personagens inteligentes e marcantes, com passagens tão instigantes, versos e fórmulas tão bonitos. E é ainda mais impressionante pensar que tudo isso, que agora vemos registrado, precisou se transmitir oralmente por alguns séculos (mesmo que o espanto diante disso possa ser nuançado pela oralidade de uma sociedade que se contrapõe, nesse sentido, à nossa…).

Quais são os seus temas atuais de pesquisa? 

Atualmente, tenho desenvolvido, numa pesquisa pós-doutoral na Unifesp, a recepção da poesia épica (Homero e Hesíodo) na literatura rosiana. A partir das anotações de João Guimarães Rosa, tenho rastreado o emprego de alguns traços dos personagens gregos no sertão. É uma espécie de laboratório para pensar a recepção dos clássicos, já que são muitos os usos que se faz (e sempre se fez) da herança grega.

O que você deseja pesquisar no futuro? Algum tema em especial?

Ainda no campo da recepção, tenho me interessado muito pelas releituras feministas da Odisseia. Minha ideia é começar a me dedicar a elas em breve. Livros como The Penelopiad, da Margaret Atwood, The Song of Achilles e Circe, da Madeline Miller e The Silence of the Girls da Pat Barker têm chamado minha atenção. Sem falar na tradução da Odisseia de Emily Wilson, que opta por a complicated man no lugar do astuto varão

Existe algum lugar que marcou a sua relação com o mundo greco-romano/antigo? Qual?

Muitos lugares marcam minha relação com o mundo greco-romano antigo. A Assembleia do Canto II da Ilíada, quando Tersites apanha de Odisseu, é um deles. De forma análoga, o julgamento de Zé Bebelo no Grande Sertão: Veredas, que guarda muitas afinidades com a assembleia iliádica, é outro. Mas se fosse o caso de mencionar lugares físicos, eu só poderia não me deter na Acrópole, em Delfos, no Ceramico – que são muito emocionantes – se fosse para relembrar a experiência de escavar em Creta, na terceira edição do Touching the Past (coordenados pelas Profas. Maria Cecília Coelho e Erica Angliker, as duas já entrevistadas por vocês). Participei das escavações de Eleutherna, sob direção do Prof. Stampolidis, no verão grego de 2019: mexer na terra para descobrir os cacos, limpá-los com a água para ver renascer seus traços e, como detetive do tempo, aproximá-los dos usos que tinham há milênios muda a forma como concebemos não somente a história, enquanto experiência, mas a experiência de pensarmos a força do tempo a despeito de nós.

Qual é o seu personagem (ficcional ou não) favorito do mundo clássico/antigo? Por quê? 

Como é difícil escolher! Há tantos personagens fascinantes… O homem complicado, o de muitas-vias é um deles. Odisseu é um personagem que me intriga muito. Até Atena era fascinada por ele; como eu não seria?! Odiável às vezes, hábil contador de histórias, enganador, mas tão inteligente, persuasivo. 

E, para finalizar, qual grego ou romano você chamaria pra um café? Sobre o que conversariam? 

Há muitas fontes que eu queria ouvir “mais de perto”… Para seguirmos com o ciclo épico, eu queria conhecer as mulheres que, ali, quase não falam. Ouvir delas as histórias. Deixar Penélope, Helena, Andrômaca, Cassandra narrarem a guerra, os anos pós-guerra, o que pensavam e como viam os homens que faziam a guerra. Ou, mesmo, ficar numa mesa ao lado de algumas delas, como se eu pudesse nem ser notada, só para escutar as impressões, as risadas, os comentários que fariam entre si, observar sua postura, seu olhar, seu jeito. Na verdade, eu queria ouvir as mulheres ilustres, mas talvez ficasse ainda mais feliz de ouvir o que falavam as servas de Penélope, ou mesmo um grupo de amigas gregas, anônimas, desconhecidas.

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