
Olá, pessoal! Dando sequência a nossa série sobre a Recepção dos Antigos na obra de Giorgio de Chirico, veremos um pouco sobre a presença da arquitetura greco-romana e de sua “ruína” nos quadros do pintor.
De Chirico, como citado no texto anterior, era crítico dos movimentos vanguardistas, em especial o futurismo. Para o pintor, a visão desses artistas acerca do mundo tinha vida curta, quando os futuristas retratavam a velocidade das máquinas, o acontecer da guerra e exaltavam as novas tecnologias, davam atenção muito grande a uma noção utópica de presente e futuro. Para esse cenário, a crítica de Giorgio De Chirico repousa sobre a rejeição do passado por parte desses vanguardistas.
O pintor italiano, criador da chamada pintura metafísica, utilizou diversos signos em suas obras para transmitir a ideia desse conceito, entre eles, as edificações clássicas, conforme ele mesmo revela em seus escritos “Meditei muito sobre esse problema da metafísica arquitetônica italiana e toda a minha pintura dos anos de 1910, 1911, 1912, 1913 e 1914 preocupava-se com isso.” (DE CHIRICO, 1919, apud BARBOSA, 2011, p. 93). Se considerando um autêntico herdeiro da tradição clássica, fez o uso dos elementos antigos em suas obras como forma de suspensão temporal dentro da estética metafísica.
Quando olhamos as telas do pintor, temos a impressão de que naquele mundo o tempo está parado, a ideia por trás disso é mostrar a sociedade como algo em constante construção e como uma adaptação do passado e da história. Por isso é que De Chirico pinta elementos da herança greco-romana, em especial a arquitetura, em seus universos. Além disso, o artista teve muita inspiração para suas telas tendo nascido em uma cidade grega com um passado clássico bastante rico.
Resgatando elementos como os arcos e colunas clássicas, as obras transmitem a ideia da robustez da tradição ocidental, esses monumentos retratam a sobrevivente virilidade dos valores do mundo clássico. Ao misturar esses objetos com construções modernas, De Chirico nos apresenta uma realidade dividida entre pilares e trens, templos gregos e chaminés industriais, relógios e arcos romanos.
Mais tarde as “ruínas”, tema recorrente nos estudos da história da arte, aparecem nas obras do pintor, as edificações, antes mantidas em pé, tornam-se destroços. Em pinturas como “O arqueólogo” de 1927, o ser sem rosto, cheio de escombros de um passado perdido, indicam uma falta de perspectiva nas novas gerações. Apoiada, a figura parece estar cansada ou abatida, tentando se manter firme. De Chirico expressa o esvaziamento que observa na modernidade ao fazer um resgate ao passado clássico, dessa forma, as ruínas seriam os restos dos valores antigos.
Fazendo uma espécie de descaracterização da totalidade, tirando seu sentido “real”, Giorgio De Chirico nos apresenta uma forma um tanto diferente de pensarmos a história, o tempo e a sociedade à nossa volta.
Bibliografia consultada:
GASPAR, Rafael Fontes. Vestígios e Ruínas: Entre Piranesi, de Chirico e Lichtenstein. Revista Interdisciplinar Internacional de Artes Visuais – Art&Sensorium, [S.l.], v. 5, n. 1, p. 259-270, jun. 2018.
BARBOSA, Paulo Roberto Amaral. Melancolia e questões estéticas Giorgio De Chirico. 2011. Tese (Doutorado em Teoria, Ensino e Aprendizagem) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
- Guilherme Bohn