A masculinidade moderna construída no imagético da Grécia Antiga no épico “Jasão e os Argonautas” (1963)

Imagem de divulgação do Instagram

Dando sequência a série de textos sobre a antiguidade no cinema, hoje, o tema da postagem será o filme “Jasão e os Argonautas” de 1963, do diretor Don Chaffey. A obra em questão virou tópico de análise sobre diversas questões a pensar sobre a recepção no cinema épico entre os membros do blog. Assim, para esse texto, atentei-me a observar a construção da masculinidade e da identidade do herói na figura do protagonista Jasão.

No filme, baseado nos contos da mitologia grega, Jasão é um herói que parte em busca do “Velo de Ouro” – uma pele de cordeiro dourada – com supostos poderes mágicos que trariam a paz e a ordem para o reino de Tessália, o qual estava em estado de instabilidade após a morte de seu pai, o rei Esão. Ao recrutar os melhores homens gregos para o acompanharem em seu percurso, o protagonista, cumprindo uma profecia, segue com a proteção pessoal da deusa Hera, a qual intervém na vida dos “argonautas” (nome derivado do barco em que navegavam, Argo) a partir de uma espécie de jogo de tabuleiro contra seu cônjuge, Zeus.

O ator principal, Todd Armstrong, faz o papel de um Jasão jovem, bonito e forte, “viril”, que constitui um tipo de ideal de masculinidade não somente na parte física mas também comportamental. Seguindo uma espécie de “jornada do herói”, o enredo do filme tem uma estrutura simples, nessa fórmula, a imagem do que deveria ser o “homem” na sociedade moderna é construída utilizando um imagético da Grécia antiga.

Jasão expressa poucos sentimentos e se atém ao caráter valente do herói que não pode demonstrar fraquezas. Quando o personagem encontra Medeia, sacerdotisa de Hecate e filha do Rei Eetes, perdida no mar e a resgata, tem-se o início do que seria um futuro relacionamento entre os dois. Entretanto, Medeia tem uma imagem também idealizada e a atitude de Jasão a ela é de objetificação. Em uma das cenas finais, quando Medea se reencontra com o protagonista e decide que seguiria ao seu lado, traindo seu pai, o emocional representado é quase nulo, como se apenas existisse um acordo que daria sentido a ideia do “mocinho” ficar com a bela mulher da história.

Além disso, a construção visual do corpo também faz parte da narrativa, tanto para o homem quanto para a mulher. Jasão, enfrentado todos os percalços do épico se vê obrigado a lutar, a liderar, a ser forte, por outro lado, Medeia é uma mulher sedutora, sensual e de beleza física impressionante destinada a acompanhar o herói de forma a representar uma recompensa a ele.

Pensando na Recepção do mundo antigo a partir de filmes como “Jasão e os Argonautas”, os chamados filmes peplum, podemos observar os usos do passado na construção das narrativas modernas. Além do aproveitamento textual dos mitos gregos, o cinema também abre a possibilidade da construção visual através da imagem em movimento, na obra em questão, o modelo de masculinidade descreve o imaginário da figura do homem ocidental e de sua masculinidade idealizada, um fabrico da sociedade moderna.

Bibliografia consultada:

ELLEY, Derek. The Epic Film: Myth and History. London: Routledge, 1984.

KIMMEL, Michael. Manhood in America: A Cultural History. 2nd. ed. New York: Oxford University, 2006.

  • Guilherme Bohn dos Santos

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