
Olá, pessoal, no texto de hoje continuaremos nossa jornada através da recepção de elementos da antiguidade greco-romana na moda, seguindo ainda o contexto do século XX, como abordado no texto anterior sobre Mariano Fortuny, porém, abordando o drapeado nas roupas da estilista Madeleine Vionnet.
Performance, corpo e expressão são elementos que perpassam essas discussões, então pretendemos no seguinte texto tratar do movimento e das formas, partindo dos designs de Madeleine Vionnet. Nascida em 1876, na frança, Vionnet, foi um dos mais importantes nomes do cenário fashion da França no século XX, tal como Fortuny e outros designs de moda, ela buscou dar ênfase nos tecidos e formas leves, nas dobras e no caimento das roupas no corpo feminino. A estilista iniciou suas criações no mundo das vestimentas trabalhando com lingeries, o que sem dúvidas, refletiu-se em suas criações posteriores, nos elementos de sensualidade e transparência em suas criações.
No período do entre guerras, a ideia de uma antiguidade vinha sendo explorada por distintos grupos, como é o caso dos nacionalistas, (a ascensão do fascismo na Itália, é um exemplo). Mas, em contrapartida, esses elementos foram, também, utilizados por artistas e pensadores dos nascentes movimentos de vanguarda, (já tratamos aqui da recepção dos antigos na obra de Giorgio de Chirico). Vionnet, mais se aproxima desse segundo grupo, através das dobras e dos recortes geométricos dos tecidos, ela busca exaltar o corpo feminino, contrapondo-se com a idealização do corpo masculino da antiguidade greco-romana.
Através do drapeado e do chamado “bias cut”(uma técnica de corte em 45°, que confere uma maleabilidade maior para o tecido), Madeline conseguiu criar peças que combinasse flexibilidade, fluidez e movimento. De forma que as roupas e o corpo se confundem, a roupa torna-se quase uma extensão do corpo feminino, abrindo-o para diferentes possibilidades.
Annek Smelik, traz uma reflexão interessante, entre a estética das dobras na arte e na moda. Iremos discorrer sobre tais discussões brevemente, para pensar como a antiguidade se insere nesse sistema simbólico. Pensando no drapeado utilizado principalmente nas esculturas barrocas de Bernini, e os vistos nas roupas de Vionnet e Fortuny. Smelik, aponta para um jogo entre as emoções expressas pelo drapeado, e a sensualidade que lhe é inerente. A autora, volta-se para as reflexões de Deleuze, que entende essas novas dobras nas vestimentas como uma forma de intensidade que se descola do corpo, em um jogo entre exterior e interior que estão sempre em movimento, no qual não se pode mais distinguir um do outro.
A dobra para Deleuze, trata-se de um conceito muito mais amplo do que poderíamos descrever aqui, porém, é interessante, pois nos possibilita traçar esse jogo na própria vestimenta. Em um período de mudanças abruptas nos modos de vida na sociedade do século XX, é através das dobras e formas das vestimentas femininas, que o interior e o exterior se encontram possibilitando um movimento infinito de criações, onde o corpo torna-se mais do que só o corpo.
Referências
CLARKE, Michael. Exhibition Review Madeleine Vionnet: 15 Dresses from the Collection of Martin Kamer. Fashion Theory, v. 6, n. 3, p. 323-326, 2002.
DI TROCCHIO, Paola. Exhibition Review: Madeleine Vionnet: Fashion Purist—The World According to Madeleine Vionnet. Fashion Theory, v. 15, n. 4, p. 517-523, 2011.
SMELIK, Anneke. Fashioning the fold: Multiple becomings. In: This Deleuzian Century. Brill, 2014. p. 37-56.
- Renata Cristina S. de Oliveira