
A dissertação apresentada é fruto do mestrado em História na Universidade Federal do Paraná, mas teve seu início ainda em meu primeiro ano de graduação – também em História – quando passei a desenvolver Iniciação Científica acerca da Recepção da Antiguidade na arte de João Turin, sob orientação da Profa. Dra. Renata Senna Garraffoni.
O trabalho se estrutura em três capítulos, cada qual com três subcapítulos, nos quais penso a presença da Antiguidade greco-romano no Paraná a partir das perspectivas textual, gráfica e material. Isto é, como fontes de pesquisa trabalhei com a revista Illustração Paranaense e com os manuscritos de João Turin, detendo-me a textos da revista e do escultor, as vinhetas ilustrativas Ânfora e Columna Paranaense presentes na Illustração Paranaense e, por fim, a Casa Paranista e o Salão Paranaense, criações de Turin.
O recorte temporal se dá nos últimos anos de 1920, os quais entendo serem os principais anos de expressão paranista, devido a publicação da Illustração Paranaense. O Movimento Paranista, pode ser pensado como um movimento identitário e regionalista, que ocorreu em Curitiba no início do século XX. Nele se deu início a urbanização da capital paranaense, a impressão de periódicos e criações artísticas com o intuito de exaltar o estado do Paraná. João Turin é considerado um dos principais artistas do movimento, devido a suas esculturas e desenhos com elementos paranaenses.
Entendo a Recepção da Antiguidade a partir dos autores Charles Martindale (1993) e Lorna Hardwick (2003), assim, trabalho com o conceito de Recepção de maneira bidirecional e dialógica. No caso, analiso a presença da Antiguidade no Paraná, pensando como essa é alterada pelos paranistas, ao mesmo tempo em que a cultura greco-romana altera a realidade de quem a pensa. Portanto, o uso do passado antigo é plural, mutável e não está distante de nossa contemporaneidade.
No primeiro capítulo, intitulado de “A Recepção dos Clássicos e o Movimento Paranista”, busco responder perguntas essenciais sobre a Recepção da Antiguidade e sobre o Paranismo. Expondo meu entendimento acerca das diferentes formas pelas quais o passado foi e pode ser pensado. Trabalho minha perspectiva teórico-metodológica a partir dos Estudos de Recepção e busco analisar os tensionamentos realizados por paranistas e seus coetâneos entre a visualidade do que seria considerado antigo e moderno, dado João Turin, mesmo se inspirando no passado greco-romano, apresentar suas criações enquanto modernas. Por fim, questiono como os autores e autoras mais recentes sobre a temática do Paranismo, apresentam o Movimento, suas obras e a relação com a Antiguidade.
Em um segundo momento, no capítulo “A Recepção da Antiguidade nas páginas da Illustração Paranaense”, analiso a revista, sua importância no Movimento Paranista e como a Antiguidade é apresentada em suas páginas. Também ressalto a Recepção realizada a partir da mitologia e da presença da Ânfora Paranaense como vinheta ilustrativa. Nesse momento, mapeio como a Antiguidade é pensada na Illustração Paranaense e de que maneira essas discussões revelam o conhecimento paranista acerca do mundo antigo. Destinando, assim, um subcapítulo somente para a Ânfora Paranaense, pois esse é o elemento que mescla em sua composição a Antiguidade que mais aparece na revista.
Por fim, no último capítulo, “O Rei da Floresta como coluna do Paraná: o Pinheiro e a Columna Paranaense”, foco na obra da Columna e nos ideais e manuscritos de João Turin, a fim de entender o que representaria uma coluna antiga dentro do Movimento, como Turin pensava a Antiguidade e quais seriam suas motivações para realizar a recepção em suas obras. Ao observar críticas e tensionamentos do escultor sobre a arte e arquitetura paranaense e brasileira, analiso a criação e a recepção da Casa Paranista e do Salão Paranaense, ambos projetos de João Turin, na cidade de Curitiba
Na dissertação busco estabelecer novas discussões acerca da Antiguidade na obra de João Turin e na Illustração Paranaense, as quais possuem a potencialidade de explicar relações que até o presente momento foram pouco exploradas – como as motivações e objetivos da criação de obras como a Columna Paranaense. Nessa direção, acredito conseguir apresentar novas formas de pensar o Paranismo e, principalmente, de conhecer as perspectivas curitibanas acerca do mundo greco-romano em suas expressões artísticas e intelectuais. Por consequência, realizo também um trabalho que pretende contribuir para o campo dos estudos de Recepção no Brasil, visto analisar diferentes visões tecidas sobre o mundo antigo no país.
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Referências:
HARDWICK, Lorna. Reception Studies. Greece & Rome, New Surveys in the Classics. nº. 33. Oxford University Press, 2003.
MARTINDALE, Charles. Redeeming the text: Latin Poetry and the Hermeneutics of Reception. Cambridge: Cambridge University Press, 1993
Barbara Fonseca
Mestre em História pela UFPR, atualmente é residente técnica de História da SECC, lotada no Museu Paranaense.