Percurso Antiga e Conexões: uma análise das experiências modernas na cidade.

Olá pessoal, nesta publicação iremos apresentar um pouco sobre o percurso que realizamos no mês anterior. O texto a seguir é o resumo da apresentação que fizemos no evento Devorar Modernismos, da Universidade Federal do Paraná, no dia 08/11/2022.

Em 2022 surgiu a ideia de organizar um percurso sobre arquitetura neoclássica no centro de Curitiba, a partir de trabalhos já desenvolvidos pelo grupo sobre a presença dos antigos gregos e romanos na literatura paranaense dos séculos XIX e XX, tanto entre os simbolistas como também nas reflexões de Paulo Leminski no contexto dos anos 1970 e 1980. Notando que a presença da Antiguidade não se restringe à literatura, pensamos em conectá-la com o cenário urbano, tendo em vista a atuação desses poetas na cidade. Buscando cruzar as referências patrimoniais neoclássicas com as literárias, o roteiro Percurso Antiga e Conexões explora sentimentos que perpassam os espaços urbanos entre as diversas temporalidades.

Assim, o objetivo da presente comunicação é relatar a experiência da organização do roteiro e analisar sua repercussão. O roteiro, inspirado do caminho Afro-Curitiba, coordenado pela professora Joseli Mendonça (Dehis/UFPR), tem como público alvo estudantes do ensino fundamental, médio e de graduação e é composto de quatro paradas ao longo da caminhada à pé pelo centro: o Passeio Público, a Universidade Federal do Paraná (Prédio Histórico), o Paço da Liberdade, e o Largo da Ordem. A escolha se deu por serem espaços que condensam a presença da Antiguidade Clássica e, também, por se localizarem próximos uns dos outros, facilitando a logística do passeio.  O objetivo central da visita a esses lugares e da experiência de caminhar pelas ruas da cidade é contrapor as temporalidades e disparidades dentro do espaço urbano, ou seja, como experienciamos a cidade atualmente e como os simbolistas experienciaram-na durante o século passado, traçando o perfil de uma outra Modernidade, assim como de outras facetas de Curitiba. 

O fio condutor, portanto, é a literatura e cada um dos pontos selecionados cruzam o presente dos poetas e o passado greco-romano. Partindo do Passeio Público, dado sua importância para o Simbolismo, finalizamos no Largo da Ordem, para comentar as traduções e poesia contracultural de Leminski. O simbolismo, vanguarda menos conhecida, permite perceber uma outra Modernidade. Afinal, poetas locais produziam concomitantemente aos modernistas da semana de 1922, embora estivessem fora do movimento antropofágico, trouxeram elementos novos para o pensamento das identidades locais, como é o caso de Dario Vellozo e Emiliano Perneta no Paraná. Com ideias ideais republicanos, anticlericais e abolicionistas, o Simbolismo teve início em Curitiba no final do século XIX e continuou forte até meados de 1930. Como são poucos os estudos que fluem nessa direção, o roteiro visa colaborar para pensar o modernismo no Brasil em espaços fora do Rio de Janeiro e de São Paulo e, para tanto, trazemos a importância do flâneur à cena, como elemento que observa não só a cidade através do caminhar, como também as sensações que a cidade nos causa, os afetos e desafetos. Assim, buscamos entender a composição da malha urbana, entre locais de memória tidos como patrimônios, até os olhares para os elementos subalternos que rodeiam esses espaços. Nesse ponto a retomada de Leminski é fundamental, pois o poeta vivenciou o cenário urbano e, em sua obra poética, a cidade se faz presente com toda a visceralidade e marginalidade, assim como toda a beleza e toda a  história que a compõe.

A chave que une esses elementos é, desse modo, a retomada dos gregos e romanos, vistas na literatura simbolista, nas poesias contraculturais de Leminski e na arquitetura eclética dos espaços que circundam o setor histórico de Curitiba, que carregam fortes elementos neoclássicos. Entendemos que olhar para a presença dos gregos e romanos na poesia e arquitetura é perceber as diferentes facetas do modernismo e da modernidade em espaços outros, privilegiando os debates que percorrem os espaços urbanos. A partir do encontro entre temporalidades é possível discutir como os discursos hegemônicos se presentificam nos espaços e como rompê-los.

BIBLIOGRAFIA:

BEGA, M. T. S. Letras e política no Paraná – simbolistas e anticlericais na República Velha. Curitiba: Editora da UFPR, 2013.

GARRAFFONI, R. S. Recepção greco-romana em Curitiba: Literatura, Patrimônio e novas abordagens do centro histórico. Revista Memória em Rede, v. 12, n. 23, p. 222-244, 2020.

  • Autora:Renata Cristina S. de Oliveira
  • Coautora: Heloisa Motelewski

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s