As paredes da cidade e Paulo Leminski – Antiga e Conexões

Boa noite Gente! O presente vídeo é fruto da série de estudos que o grupo Antiga e Conexões realizou a partir de Paulo Leminski. Nesse, consideramos a importância da manifestação nas paredes de uma cidade em murais, grafites e pichações – e o que cada uma dessas manifestações pode nos dizer sobre sua história e população. A partir das reflexões de Leminski, observamos como o advento do capitalismo e da modernidade diferenciam os escritos nas paredes de Pompéia, por exemplo, dos escritos em muros da cidade atual. É nessa cidade contemporânea que podemos diferenciar, segundo Leminski, as paredes contraculturais (marcadas pelo grafite e pixo ilegal) das oficias (marcadas, por exemplo, pelo movimento paranista com incentivo do estado).

Para saber mais sobre a maneira como Paulo Leminski trabalha o grafite, a poesia e o passado. Link para a exposição virtual “Paulo Leminski e os Antigos”: https://antigaeconexoes.wordpress.com/2020/12/08/exposicao-paulo-leminski-e-os-antigos/

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Link do vídeo completo da palestra de Paulo Leminski na UFPR: https://www.youtube.com/watch?v=cXdKmKUcXAk

As paredes da cidade: entre o muralismo e o grafite

Arte temática de Paulo Leminski com vários de seus haikais no centro de Curitiba, rua Doutor Faivre esquina com XV de Novembro. Imagem: divulgação.

Em preparação para a exposição sobre Paulo Leminski, o tema do post desta semana será sobre um elemento importante das cidades: suas paredes, muros e murais.

Em Curitiba, principalmente no centro da cidade, é possível observar diversos murais com temáticas que refletem uma visão bem tradicional do Paraná: muitos pinheiros, pinhões, gralhas-azuis e figuras realizando trabalhos braçais. Desde a primeira república, esse tipo de obra, encomendada pelos governos de estados e municípios, são reconhecidas pela historiografia da arte como uma maneira de tentar estabelecer uma identidade específica para a cidade. Os temas já anteriormente mencionados que se encontram nos murais “oficiais” presentes em Curitiba fazem referência ao Paranismo, movimento artístico que floresceu na cidade justamente com o objetivo de construir uma identidade para o Paraná, que se tornou estado independente de São Paulo em 1853. Esse movimento artístico, por mais que tenha seu momento de maior produção na primeira metade do século XX, teve um impacto permanente na arquitetura cidade. Mesmo em períodos posteriores, é possível observar elementos de origem paranista em edifícios e calçadas, além de em murais de artistas como Ida Hannemann de Campos e Poty Lazzarotto.

Entretanto, não apenas de murais encomendados pelo poder público que se constitui uma cidade. É nesse aspecto que Paulo Leminski entra na nossa discussão. Segundo o historiador Everton de Oliveira Moraes, Leminski foi uma voz contrária à visão tradicional de Curitiba – de um povo trabalhador, conservador, com muita influência de seu passado imigrante –, buscando sempre trazer à tona tensões e disputas presentes na cidade. Ainda segundo esse historiador, o artista teceu diversos esforços para incitar o experimentalismo na cidade, colocando-se como uma espécie de “herói nacional” que negava não apenas a visão tradicionalista da cidade, mas também sua construção como cidade moderna modelo. Atualmente, Leminski continua inspirando e contribuindo para a imagem de Curitiba, homenageado em diversas paredes, construções, ruas, bares e localizações turísticas.

Banner pela artista Anita Ferreira para a Casa da Memória, em celebração ao que seria o aniversário de Leminski em 2017. Imagem: divulgação.

Para conhecer um pouco mais sobre Paulo Leminski e o seu trabalho, fique de olho no blog e aguarde a exposição!

  • Letícia Schevisbisky de Souza

Conhecendo Paulo Leminski

Oi, gente! No post de hoje buscamos apresentar um pouco sobre Paulo Leminski, sua vida, obra e sua relação com os antigos gregos e romanos.

Claudio Daniel: Paulo Leminski, 30 anos de saudades - Vermelho
Paulo Leminski. Imagem: divulgação.

O poeta, nasceu em Curitiba no dia 24 de agosto de 1944, viveu o início da infância no interior de Santa Catarina e parte da adolescência em São Paulo, quando iniciou os estudos com os monges beneditinos, lá teve contato com as línguas antigas, grego e latim, e também onde se deu a base de sua educação. Após sair do mosteiro aos 14 anos, voltou para Curitiba, e quando mais velho ingressou no curso de direito na Universidade Federal do Paraná, porém não concluiu os estudos na área. Seu início na arte foi cedo, começou a fazer poesia ainda quando criança, e teve uma grande influência da música, tendo sido autodidata. Além do grego e do latim ele conhecia diversos idiomas, como o inglês, japonês, polonês e entre outros.

No ramo profissional Leminski foi além de poeta, professor, publicitário, jornalista, tradutor, compositor e etc. Ele possuía uma exímia capacidade de trabalhar com a linguagem. Sua obra literária vai além de poesia, engloba ensaios, romances, biografias e prosas experimentais. Teve grande influência dos poetas concretistas, do zen budismo e dos clássicos. No quesito das influências antigas ele traduziu o Satyricon de Petrônio e produziu uma releitura das Metamorfoses de Ovídio. Além do mais, sua obra poética é repleta de diversas referências as línguas antigas e aos clássicos, indico aqui o texto de Guilherme Gontijo Flores, sobre a relação do poeta com o latim (você pode ler a resenha dessa obra aqui mesmo no blog).

Mesmo tendo um vasto referencial teórico, a escrita de Leminski é acessível, pois sua poesia é para todos. Ainda, sua produção de biografias também é marcante: ele escreveu quatro biografias, de personalidades como Jesus, Bashô, Trotsky e Cruz e Souza.

O poeta tinha uma relação muito estreita com a cidade de Curitiba, sendo uma das figuras mais lembradas quando pensamos a produção literária no Paraná. Foi leitor de Emiliano Perneta e principalmente de Dário Vellozo, mas também frequentou a cidade, seus bares, suas ruas, como um verdadeiro Flâneur. Leminski também contribuiu muito para a produção musical nacional, tendo suas composições tocadas por diversos músicos como Caetano Veloso, Itamar Assumpção, Moraes Moreira, Arnaldo Antunes e outros.

Em uma passagem ele define a arte como “a única chance que o homem tem de vivenciar a experiência de um mundo da liberdade, além da necessidade”. Paulo Leminski viveu da arte e produzi uma vasta obra, infelizmente morreu cedo, aos 44 anos. Entretanto, sem dúvidas experienciou este mundo de liberdade e sua obra ainda vive.

  • Renata Cristina S. de Oliveira

FESTA DA PRIMAVERA: ANTIGUIDADE E CELEBRAÇÃO

Você já se perguntou como surgiram as celebrações de sua cidade? Quais os símbolos e significados conduzidos, através dos tempos, por essas festividades? O post dessa semana dedica-se a apresentar aos estudantes, pesquisadores e entusiastas da Antiguidade Clássica, como a ‘Festa da Primavera’ marcou a sociedade curitibana do final do século XIX e início do XX.

Como parte deste grupo plural e de múltiplas origens, a capital paranaense nos ofereceu, para além de residência, os ingredientes necessários para nutrir a paixão pela História Antiga e suas conexões com o presente.

CURITIBA E A APOTEOSE DA NATUREZA

A Festa da Primavera, culto idealizado pelo príncipe dos poetas paranaenses, Emiliano Pernetta e seu colega Dario Vellozo, simbolista notável da época, tinha entre suas principais intenções promover, mediante uso da arte e da poesia, um ambiente de sociabilidade para a elite letrada, enquanto exaltava a influência da cultura helênica.

Homenagem a deusa Clóris, personificação da primavera grega, a cerimônia contava com a participação de homens, vestidos em túnicas brancas, com ramos de oliveira nas mãos e coroas de louros em suas cabeças, enquanto liam e interpretavam poemas, rememoração viva do teatro grego.

A participação feminina também era numerosa, consentida por seus pais-inventores, se deu principalmente no Templo das Musas, o sentimento da instituição de uma “Nova-Helade” inundava o espetáculo, no local que hoje conhecemos como sede do Instituto Neo Pitagórico. Particularidades que podem ser observadas nas imagens a seguir:

(Foto: acervo Museu da Imagem e do Som)
 (Acervo: Instituto Neo-Pitagórico)

Popularmente conhecida como “Rua das Flores”, a XV de Novembro, tornou-se ponto imprescindível dentro do roteiro de visita a cidade de Curitiba e um dos principais cenários para a celebração da Festa da Primavera, na virada do século.

Construída em petit pavé, alterna entre pedras brancas e pretas, desenhos de araucárias surgem e a vegetação escolhida como o símbolo do estado ganha plena forma. Fotografias registraram os desfiles anuais em que carruagens, cobertas por arcos de flores, atravessavam a região central do município, acompanhadas por uma multidão. Das sacadas dos casarões era possível observar o cotidiano urbano em suspensão. A solenidade interrompia o repetir das atividades rotineiras e as duas temporalidades partilhavam o existir, momentos responsáveis pela produção de um material de valor iconográfico inestimável, o coração do comércio vigente conquista o preservar de seu passado.

(Acervo: Casa da Memória – FCC online/pergamum)
(Fonte: Jornal Folha)

Desse modo, a representação das civilizações antigas como fonte de estudos, desencadeou uma via de comunicação entre o passado, daquele que já viveu, com o presente de quem observa. Os canais converteram-se em instrumentos colaborativos na compreensão do homem, dentro de uma República recém-instaurada, suporte necessário para entender como esse processo reverberou no comportamento da sociedade curitibana, entre 1890 e 1930.

Assim, a compreensão do corpo social como um coletivo, a criação de uma identidade, legitimada pela identificação daquilo que entendemos como origem, portanto íntegra, frente à face da democracia grega e da liberdade por ela edificada, transpassavam o universo da festividade em curso trivial. A colisão entre teoria e objeto, oferecem novas visões acerca dos estudos clássicos.

Referências
CHEVITARESE, A.L.; CORNELLI, G.; SILVA, M.A.O. A Tradição Clássica e o Brasil. Brasília, Fortium, 2008.
CLAVAL, P. A festa religiosa. Ateliê Geográfico, Goiânia, v. 8, n. 1, p. 6- 29. 2014.
MURICY, Andrade. O símbolo: à sombra das araucárias (Memórias). Conselho Federal de Cultura e Departamento de Assuntos Culturais, 1976.

  • Letícia Bail