Você já se perguntou como surgiram as celebrações de sua cidade? Quais os símbolos e significados conduzidos, através dos tempos, por essas festividades? O post dessa semana dedica-se a apresentar aos estudantes, pesquisadores e entusiastas da Antiguidade Clássica, como a ‘Festa da Primavera’ marcou a sociedade curitibana do final do século XIX e início do XX.
Como parte deste grupo plural e de múltiplas origens, a capital paranaense nos ofereceu, para além de residência, os ingredientes necessários para nutrir a paixão pela História Antiga e suas conexões com o presente.
CURITIBA E A APOTEOSE DA NATUREZA
A Festa da Primavera, culto idealizado pelo príncipe dos poetas paranaenses, Emiliano Pernetta e seu colega Dario Vellozo, simbolista notável da época, tinha entre suas principais intenções promover, mediante uso da arte e da poesia, um ambiente de sociabilidade para a elite letrada, enquanto exaltava a influência da cultura helênica.
Homenagem a deusa Clóris, personificação da primavera grega, a cerimônia contava com a participação de homens, vestidos em túnicas brancas, com ramos de oliveira nas mãos e coroas de louros em suas cabeças, enquanto liam e interpretavam poemas, rememoração viva do teatro grego.
A participação feminina também era numerosa, consentida por seus pais-inventores, se deu principalmente no Templo das Musas, o sentimento da instituição de uma “Nova-Helade” inundava o espetáculo, no local que hoje conhecemos como sede do Instituto Neo Pitagórico. Particularidades que podem ser observadas nas imagens a seguir:


Popularmente conhecida como “Rua das Flores”, a XV de Novembro, tornou-se ponto imprescindível dentro do roteiro de visita a cidade de Curitiba e um dos principais cenários para a celebração da Festa da Primavera, na virada do século.
Construída em petit pavé, alterna entre pedras brancas e pretas, desenhos de araucárias surgem e a vegetação escolhida como o símbolo do estado ganha plena forma. Fotografias registraram os desfiles anuais em que carruagens, cobertas por arcos de flores, atravessavam a região central do município, acompanhadas por uma multidão. Das sacadas dos casarões era possível observar o cotidiano urbano em suspensão. A solenidade interrompia o repetir das atividades rotineiras e as duas temporalidades partilhavam o existir, momentos responsáveis pela produção de um material de valor iconográfico inestimável, o coração do comércio vigente conquista o preservar de seu passado.


Desse modo, a representação das civilizações antigas como fonte de estudos, desencadeou uma via de comunicação entre o passado, daquele que já viveu, com o presente de quem observa. Os canais converteram-se em instrumentos colaborativos na compreensão do homem, dentro de uma República recém-instaurada, suporte necessário para entender como esse processo reverberou no comportamento da sociedade curitibana, entre 1890 e 1930.
Assim, a compreensão do corpo social como um coletivo, a criação de uma identidade, legitimada pela identificação daquilo que entendemos como origem, portanto íntegra, frente à face da democracia grega e da liberdade por ela edificada, transpassavam o universo da festividade em curso trivial. A colisão entre teoria e objeto, oferecem novas visões acerca dos estudos clássicos.
Referências
CHEVITARESE, A.L.; CORNELLI, G.; SILVA, M.A.O. A Tradição Clássica e o Brasil. Brasília, Fortium, 2008.
CLAVAL, P. A festa religiosa. Ateliê Geográfico, Goiânia, v. 8, n. 1, p. 6- 29. 2014.
MURICY, Andrade. O símbolo: à sombra das araucárias (Memórias). Conselho Federal de Cultura e Departamento de Assuntos Culturais, 1976.
- Letícia Bail