
Olá, pessoal! No presente texto, vamos explorar a moda no século XX, através dos modelos de vestimentas criados por Mariano Fortuny, trajes que tiveram uma forte inspiração na antiguidade greco-romana. Mas não iremos pensar nessa retomada de Fortuny da antiguidade como algo deslocado, aqui iremos traçar reflexões que perpassam as vestimenta, temporalidade e corporeidade de forma que possamos articular o passado antigo com o século XX também com o presente, questionando o que entendemos por “Clássico”.
As roupas, como já exploramos nos textos anteriores, não são objetos superficiais, mas podem dizer muito sobre nós, nossos contextos, culturas e aspectos sociais relativos a gênero, classe social e entre outros. Tendo isso em mente vamos retomar como as vestimentas costumavam ser no século XIX. A pesquisadora Valéria Brandini, pode nos ajudar a entender as vestimentas nesse período. Ela aponta que com ascensão da industrialização na Inglaterra o corpo humano, (principalmente dos individúos do sexo masculino), passou a ser visto como uma extensão do trabalho; juntou-se a isso a condenação da homossexualidade, fazendo com que a extravagancia nos trajes masculinos, que antes era vista como um sinal de poder de indivíduos aristocráticos, passasse a ser vista como um elemento dos trajes femininos. Mas, mesmo nesse âmbito os trajes mais simples eram vistos como um alinhamento entre quem o utilizava com a retitude moral, o copo passa a ser escondido e despersonalizado. As roupas passam a ser vistas, na esfera pública como um aspecto de demonstração de subjetividade, do “eu”, as vestimentas tornam-se signos que revelam aspectos psicológicos dos indivíduos e não mais como um marcador de tradição.
Já no final do século XIX, a roupa feminina passa da simplicidade ascètica e começa a ganhar alguns traços de extravagância como forma de distinção na esfera pública, isso devido as revistas femininas e da atuação das mulheres, que passaram a participar de forma mais intensa na vida pública. Como já havíamos exposto nos textos anteriores, no século XVII e XVIII houveram muitos interesses de recuperação do passado greco-romano nos estilos, na arte e na vida social. Emma Hart, utilizou-se de elementos da antiguidade em seus trajes, tornando o passado em algo vivo em suas performances. As mulheres do século XX não fizeram diferente, principalmente aquelas que se encontravam nas esferas da arte e da dança, elas entendiam que a performance, era uma forma de comunicação que poderia expressar a alma através do corpo.
Mariano Fortuny, nascido na Espanha em 1871, foi um designer de moda que teve uma atuação intensa nos meios culturais europeus. As vestimentas criadas por ele tiveram inspirações principalmente nas formas das esculturas gregas e nas artes bizantinas, como os mosaicos, essa junção permitiu a ele criar um novo conceito de “clássico”. As inspirações de Fortuny na história, são devidas ao pai, que foi um colecionador de arte e artefatos históricos. Mariano cresceu e moldou seu imaginário da antiguidade, nesse meio, ele acreditava que as artes antigas não precisavam estar aprisionadas no passado, mas sim podiam ser repensadas e reutilizadas no presente.
A arte esteve na vida de Fortuny em muitos meios, na fotografia, na escultura, no teatro e na moda. Ele começou a criação de roupas a partir de sua atuação no teatro, ele tinha inspiração nas luzes e nos movimentos do palco, não produzia roupas por demanda de mercado, mas sim pensando no corpo como forma de expressão. A união entre as referências de estátuas gregas (como forma de representar e dar liberdade ao corpo) mais as cores e as representações dos mosaicos bizantinos (como figurativo da alma), agradou nomes do cenário artístico como a dançarina Isadora Duncan e a atriz Eleonora Duse.
Fortuny, em meio a debates teóricos sobre o “Clássico”, entre aqueles que entendiam o passado grego como detentor de uma superioridade, e aqueles mais conciliatórios que buscavam uma memória compartilhada das artes, em diversas culturas, como gregas e bizantinas. Conseguiu romper com essa definição, criando sua própria interpretação do clássico, como algo que diz muito mais a respeito do presente do que do passado.
Referências
BIBLIOGRAFIA:
BRANDINI, Valéria. Moda, cultura de consumo e modernidade no século XIX. Signos do Consumo, v. 1, n. 1, p. 74-100, 2009.
MILLER, Daniel. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2013.
SCHWARZ, Caitlin Mackenzie. Body and Soul: How Mariano Fortuny Redefined the” Classical”. 2019. Tese de Doutorado. University of California, Davis.
- Renata Cristina S. de Oliveira