
Nos deparamos, por vezes, com frases como “antigamente que era bom, quando gay não tinha orgulho de sair por ai”, ou “gay sempre teve, mas tinha vergonha de sair do armário”. Frases ditas por pessoas com pensamentos mais conservadores, que desejam voltar a um passado idealizado, e que consideram a homoafetividade como ahistórica, sempre existindo, mas com o diferencial de que ela ficaria reprimida porque os gays teriam então uma suposta vergonha.
Interessante, porém, seria tentarmos encontrar a genealogia da ideia da homoafetividade e nos perguntarmos se – de fato – as pessoas sempre pensaram suas sexualidades a partir dessa forma. Ao olharmos para a antiguidade grega, nos deparamos com outra forma de vermos as constituições do sujeito. Não era a escolha do sexo da pessoa com quem você dormia que te definia como pessoa. Os homens nesse período tinham prazeres tanto com mulheres como com homens. Era o descontrole com as relações que fazia com que um homem fosse visto como afeminado, e não o fato de que ele dormia com homens ou não. Assim, um homem que não tivesse controle sobre si mesmo, e se entregasse aos prazeres de forma excessiva seja com mulheres ou homens, era visto de forma negativa. O foco então era no controle dos excessos, no equilíbrio e na sua autonomia com o cuidado de si.
A ideia de homossexualidade – tal qual conhecemos em nossa atualidade – não existia na antiguidade clássica grega. Quando, então, ela começa a se constituir? Foi somente em 1892 quando acredita-se que um autor – Chaddock – incluiu no dicionário de Oxford a palavra homossexualidade. Com a construção desse conceito, veio também a criação científica da sexualidade. Apesar de que antes os atos sexuais eram categorizados e analisados, foi somente no século XIX que fez-se uma correlação direta entre a identidade da pessoa e sua orientação sexual. A ciência possuiu, nesse debate, papel central para não só fazer do sexo uma uma categoria de análise, mas também o centro das identidades.
Ao olharmos para o passado clássico grego, e para a construção do século XIX que permanece até hoje, percebemos que nossa maneira de lidar com a sexualidade foi criada em um momento histórico, e que ela já foi diferente. Ao vermos essa categoria como histórica e construída, podemos questionar nossa atualidade, e apresentar a possibilidade de transformação para outras formas de ver a sexualidade, de ver os indivíduos.
- Mariana Fujikawa