Parceria – Tópicos Especiais de História da Arte Antiga e Medieval

Imagem de divulgação. Instagram: @antigaeconexoes.

Olá!!

Espero que estejam bem!

Neste post gostaria de apresentar os trabalhos dos e das estudantes do curso noturno de História, da UFPR, o bacharelado História, Memória e Imagem. A disciplina, um tópico sobre história da arte antiga, teve um recorte bem especial, como podem conferir na ementa logo abaixo: discutir arte romana e sua recepção na modernidade a partir da escavação de Pompeia.

Com isso a disciplina foi estruturada em três módulos que abarcaram os seguintes temas: o processo de escavação de Pompeia; os estudos sobre as pinturas de parede e os seus estilos; o estabelecimento da estética clássica como fundante da arte ocidental; o desenvolvimento das disciplinas de História da Arte e Arqueologia Clássica; o Gran Tour e divulgação do sítio por meio da arte e literatura do século XIX; as inspirações e diálogos possíveis com artistas da época como Alma-Tadema, Ulpiano Checa e os pintores bolsistas das Belas Artes do Rio de Janeiro; as obras modernistas que trouxeram os antigos romanos para as vanguardas; o retorno à ordem do entre guerras. 

Esses debates foram feitos nas aulas com discussões de bibliografia específica. Os e as estudantes se dividiram em grupos puderam escolher, a partir destes temas, objetos de interesse para pesquisar e desenvolver produtos de acesso livre. Dada as particularidades do curso noturno, cujo TCC não se restringe a um texto, podendo ser um produto, criar materiais de divulgação científica é fundamental não só para difusão do conhecimento construído em uma disciplina, como também pode gerar ideias para serem aprofundadas em um trabalho de final de curso. 

Seguem os trabalhos realizados por alguns dos grupos, para que tenham uma ideia da potencialidade deste tipo de atividade coletiva e a ementa da disciplina. Esperamos que inspirem novas pesquisas! Leiam, divulguem e, também, nos contem o que acharam!

  • Renata Senna Garraffoni

Professora da disciplina

A ementa da disciplina pode ser acessada clicando aqui.

GRUPO 01 – Teresa Cristina e a Arqueologia Clássica no Brasil

Estudantes: Letícia Anastácio Veras Ré; Maria Giovana Boregio Antigo; Pamelly Vaz de Lima 

Tema: As estudantes partiram da vida da imperatriz Teresa Cristina para abordar um tema pouco conhecido e estudado: as origens da Arqueologia Clássica no Brasil. Nascida em Nápoles, Teresa Cristina manteve intenso diálogo com a região, negociando uma importante coleção de artefatos pompeianos para o Museu Nacional. O trabalho é um e-book ilustrado em que se pode ter uma ideia do que havia na coleção, quase toda destruída no terrível incêndio de 2018. Uma leitura que, além de informativa, serve de reflexão sobre patrimônio, preservação e as condições críticas de alguns museus brasileiros.

Link para acessar o trabalho escrito: https://drive.google.com/file/d/1u63GTv4zstvfaQy-yh54E69QA_BanlyU/view?usp=share_link

Acesso ao e-book (parte 1):

Acesso ao e-book (parte 2):

Link de acesso ao e-book completo: https://online.fliphtml5.com/myvoi/qsrn/#p=1

GRUPO 02 – Nísia Floresta e o diário de viagem

Estudantes: Cosme de Jesus, John Barbosa, Maria Luiza Artimonte, Scheila Ribeiro

Tema: a partir das discussões sobre Gran Tour, o grupo criou um e-book com as principais informações sobre o diário de viagem, recém traduzido para o português, de Nísia Floresta, educadora, abolicionista e feminista. Nísia esteve em Pompeia no século XIX e em várias cidades do mundo antigo, fez várias reflexões conectando seu tempo e o passado clássico, viés pouco conhecido de sua obra. Vale à pena conhecer as narrativas de Nísia e outras viajantes latino-americanas que fizeram o Gran Tour, mas que são menos estudadas que os homens.

Acesso ao e-book:

Link para o download do e-book: https://drive.google.com/file/d/15hqXMBJt2PWTvRczOnTfTBDiW1x8Jr_d/view?usp=share_link

Link para download do diário de Nísia, na tradução publicada pela UFRN: https://memoria.ifrn.edu.br/handle/1044/1661

GRUPO 03 – Os 4 estilos de Mau

Estudantes: Izabella Mucciaccio e Heloisa Vilas Boas

Tema: A partir da constatação na qual há pouco material disponível e acessível no Brasil sobre os 4 estilos de pinturas parietais de Pompeia, definidos por August Mau, no século XIX, as estudantes fizeram uma cartilha sobre o tema. Nela exploram aspectos das escavações de Pompeia, a definição dos estilos com exemplos, além de bibliografia para quem quiser aprofundar os estudos e as pesquisas sobre pintura romana. Uma ótima opção para uso em sala de aula ou para um público em geral que se interessa por pinturas ou arte nas paredes.

Acesso à cartilha:

Link para download do material: https://drive.google.com/file/d/1eIZB7dw6QWm9o-KXCR5RJES0hLk1adRL/view?usp=share_link

O Rasgar da Tecedura Neoclássica: A Moda e a Antiguidade por Emma Hart

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Olá, pessoal! Esperamos que estejam bem!

Hoje iniciamos a publicação de nossos textos temáticos voltados para os Estudos de Recepção na moda. Assim, decidimos por partir do contexto de evocação neoclássica das tendências na indumentária, considerando um recorte histórico que envolve os séculos XVIII e XIX. Afinal, como nos fornece a leitura de Rhinehart (2021), são esses períodos históricos marcados pela constituição de uma moda expressamente receptora de elementos greco-romanos. Tal tendência fora, conforme demonstra o autor, introduzida no mundo europeu a partir do foco napolitano setecentista, ao que refletimos sobre uma possibilidade concreta de afiliação histórica ao momento do encontro das ruínas de Pompeia. Integraria, assim, uma tendência de chamamento artístico das imagens da cidade soterrada, de criação de uma temática criativa aos oitocentos, tal qual o estudado por Romero-Recio (2010). 

É, desse modo, no entremeio desse arcabouço visual que a moda neoclássica se fundamenta, tratando da cultura material em suas criações estéticas, a exemplo do uso de colunas no vestuário à la grecque. Extrapolando os limiares europeus, a nova moda teria efetiva encarnação nas expressividades das chamadas “estátuas viventes”, pessoas que agem de modo a tomar e a incorporar na vida cotidiana a indumentária encontrada em esculturas clássicas. Porém, vale ressalvar aqui o fator de que, como todo movimento receptivo, essa apropriação não se dá em termos estritos, mas sim de acordo com leituras atuais sobre esse passado, adequando-se suas funcionalidades e ideais ao tempo presente. Sendo assim, podemos considerar como ecoam tais assimilações sob os signos de um estilo, vocábulo apropriado segundo as designações de Miller (2013). É, pois, um caminho de exteriorizar a individualidade, de convocar caracteres para uma definição de subjetividade, especialmente cunhada, aqui, a partir dos aspectos de uma época passada. 

Em tal linha, podemos encontrar, então, a relevância da agência feminina na produção modista a partir de seus desvelos para com a apropriação de elementos neoclássicos. Tendo como panorama histórico as sociedades europeias do século XVIII e XIX, notamos como essa absorção da materialidade greco-romana se dá em movimentos ora de correspondência, ora de rompimento, no que tange aos padrões comportamentais esperados às mulheres. Por conseguinte, nos deparamos, nesse grande palco contextual, com a figura de Emma Hart, também conhecida como Lady Hamilton, uma personagem essencialmente transgressora ao se revestir da Antiguidade. Isso pois, ao fazê-lo, não se limitava a manter seus componentes à superfície, mas os incorporava devidamente à orientação do agir pessoal, dando bases concretas à uma performance

Por essa forma, a dama inglesa usou da moda de modo a entrelaçar suas atitudes ao passado, cuja exibição faz-se sentir sob os impactos de sua encenação corporal no seio das representações teatrais e cinematográficas dos finais do século XIX e início do século XX (BREWSTER; JACOBS, 2016). Com isso, visualizamos como a roupa torna-se não apenas continuidade do corpo, como examina Miller (2013), mas peça formante da corporeidade. Estátua vivente, Emma Hart, à atuação diante de seus convidados, conforme relata Romero-Recio (2010), fingia-se alegorias e mitos de Roma e Grécia, em atitudes que seriam retratadas e a levariam a ser modelo para outras moças, de seu tempo e da posteridade. Assim, ao aliar indumentária e representação performática, fundou moldes de atuação feminina inovadoras, repensando as possibilidades de apropriação greco-romana na moda. Foi, portanto, um extrapolar do Neoclássico, um rasgar de seus tecidos entrelaçados à trama social vigente, nomeadamente efetivado com sua ação de “estátua viva”, ou seja, com sua performatividade – tema este que será aprofundado em futuras publicações. 

Referências:

BREWSTER, Ben; JACOBS, Lea Acting. In: _____. Theatre to Cinema: Stage Pictorialism and the Early Feature Film. Oxford: Oxford University Press, 2016. p. 65-110.

MILLER, Daniel. Por que a indumentária não é algo superficial. In: _____. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. p. 21-65.

RHINEHART, Robert. Romans on the Runway: Classical Reception in Contemporary High Fashion. 2021. 86f. Tese (Senior Honor em Estudos Clássicos) – Departamento de Clássicos, University of North Carolina, Chapel Hill, 2021. 

ROMERO-RECIO, Mirella. Pompeya: Vida, muerte y resurrección de la ciudad sepultada por el Vesubio. Madrid: La Esfera de los Libros, 2010. 

  • Heloisa Motelewski 

Cantando o Desastre: A Recuperação das Imagens sobre os Últimos Dias de Pompeia na Musicalidade Contemporânea

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Por certo, a popularidade de Pompeia está reconhecida em seu destino trágico, em sua paradoxal destruição e conservação pelas obras do Vesúvio. Por isso, não é estranho ouvir narrativas musicalizadas sobre esses eventos pompeianos, os quais, dramatizados e metaforizados, passaram a ser parte das letras de músicas dos mais variados gêneros, tais como o pop, o folk e o MPB. A exemplo de cada um desses estilos, hoje trabalharemos brevemente com as produções de Bastille, de Spaccanapoli e de Madimboo, grupos cujas canções, transitantes entre esses distintos gêneros, abordam, sob diferentes perspectivas, os últimos dias da vida da cidade romana. 

Iniciando pelo hit da banda inglesa, com o sugestivo título “Pompeii”, parte do álbum “Bad Blood” (2013), são reveladores seus anseios de reavivamento dos “fantasmas” pompeianos. Incitando sua trama a partir de um diálogo entre duas das vítimas do vulcão, como indicado por Nĕmčíková (2021), os compositores ecoam, ainda, as noções de uma purgação dos “pecados” de seus conterrâneos: “Oh where do we begin? / The rubble or our sins? / And the walls kept tumbing down / In the city that we love / Grey clouds roll over the hills / Bringing darkness from above” (Em tradução livre: “Oh por onde começamos? / Pelos destroços ou por nossos pecados? / E as paredes seguiram caindo / Na cidade que amamos / Nuvens cinzas rolando pelas colinas / Trazendo a escuridão de cima”). Porém, é extremamente interessante notar como repassam a ação justiceira às mãos das próprias divindades romanas, formando, assim, uma curiosa apropriação da tradição providencialista que, em um caráter essencialmente religioso e cristão, fora principiada entre os românticos da literatura oitocentista. 

Vídeo da música Pompeii, de Bastille (2013)

Nessa mesma linha poética, que desvenda a ação vulcânica como caminho de purgação, encontramos a música “Vesuvio”, do álbum “Lost Souls” (2012) da banda napolitana Spaccanapoli. Um grupo musical dedicado à retomada do passado italiano e da tradição mediterrânica, em performances nos moldes da tarantella e frones, são suas produções essencialmente contextualizadas pelo movimento contracultural italiano. Afinal, conforme apreendido através do histórico delineado por Vacca (2012), é perceptível sua integração na tendência de uma reformulação da música folclórica e tradicional napolitana, reanimando, no entremeio dos processos de globalização, a força dos dialetos locais à musicalidade. Integrando, por esse modo, um cenário contestador, a canção se dirige ao poder destruidor erigido sob a égide do Vesúvio: “Você é o purgador de todo esse povo / que vive em favelas e que vive em necessidade, e ainda, aonde devemos ir? / Antes que o dia amanheça / o rio de lava nos arrastará e nos deixará sem casa / Você é uma montanha, mas que montanha!” (Em tradução livre do inglês1). Dessa forma, pode-se pensar em uma recontextualização do passado destruidor do vulcão, articulada de modo a tecer críticas pertinentes às questões sociais atuais da Itália. 

Vídeo com a gravação da música Vesuvio, de Spaccanapoli (2012)

Por fim, e em um sentido distinto, o grupo musical pernambucano Madimboo, em seu álbum “Flertar é Humano” (2019), recorre aos “Últimos Dias de Pompéia” para refletir sobre as relações amorosas, metaforizando seus percalços e desilusões. Em uma estética e em uma sonoridade de insinuante psicodelia, como observado por Pinheiro (2019), seus produtores retomam a aura onírica da cidade. Mais essencialmente, porém, nos parece haver um realce na retomada das ambiguidades do destino de Pompeia, um dos motivos principais das representações da cidade exterminada e, ao mesmo tempo, preservada, como visto por Paul e Hales (2011). De mesmo modo, chama a atenção o sentimentalismo incontrolável, talvez em uma outra continuidade do ideal romântico sobre o descontrole das ações vesuvianas: “Pode guardar teu latim / Guardei o teu lugar […] Cai o céu entre os meus braços / E o que o sentimento / Não controla / Coração dentro do ventre / O mesmo engano / Me apavora”. 

Videoclipe da música Os Últimos Dias de Pompéia, de Madimboo (2019)

Traçando algumas últimas considerações, gostaríamos de realçar como a manifestação musicalizada sobre as narrativas voltadas ao fim de Pompeia, expressas nos mais diversos gêneros musicais, mantém viva, em seu conjunto, uma noção de providencialismo, de vivacidade do poder da natureza, de animosidade do furor punitivo do Vesúvio. Assim, veiculam os “mitos pompeianos” (ST. CLAIR; BAUTZ, 2012), originários em sua fama pelo romantismo vitoriano de Lytton, pelas tragédias das ficcionais vidas de Nídia, Ione e Glauco.

Notas

1 Letras consultadas em: https://www.allthelyrics.com/forum/showthread.php?t=104769.

Referências

MURARO, Cauê. Baterista do Bastille defende hits e diz que banda tenta ‘ir além do óbvio’. Disponível em: <http://g1.globo.com/musica/lollapalooza/2015/noticia/2015/03/baterista-do-bastille-defende-hits-e-diz-que-banda-tenta-ir-alem-do-obvio.html>. Acesso em: 13 nov. 2021.  

NĔMČÍKOVÁ, Hana. Intertextuality and Popular Music: Bastille. 2021. Tese (Bacharelado) – Faculdade de Humanidade, Tomas Bata University in Zlín, 2021. 

PAUL, Joanna; HALES, Shelley. Introduction: Ruins and reconstructions. In: _____ (Ed.). Pompeii in the Public Imagination from its Rediscovery to Today. New York: Oxford University Press, 2011. p. 1-14.

PINHEIRO, P. H. Em dançante disco de estreia, trio pernambucano Madimboo prova que “Flertar é Humano”. 2019. Disponível em: <https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2019/10/28/madimboo-flertar-humano/&gt;. Acesso em: 13 nov. 2021.

REAL World. Spaccanapoli – Real World Records. Disponível em: <https://realworldrecords.com/artists/spaccanapoli/>. Acesso em 13 nov. 2021. 

RECIO, Mirella Romero. Pompeya: Vida, muerte y resurrección de la ciudad sepultada por el Vesubio. Madrid: La Esfera de los Libros, 2010. 

ST CLAIR, William; BAUTZ, Annika. Imperial decadence: the making of the myths in Edward Bulwer-Lytton’s The Last Days of Pompeii. Victorian Literature and Culture, n. 40, p. 359-396, 2012. 

VACCA, Giovanni. Music and Countercultures in Italy: the Neapolitan Scene. Volume!, v. 9, n. 1, 2012. ]

  • Heloisa Motelewski

Pompeia Ressurge nas Telas: O Templo de Ísis no Cinema Mudo

Olá, pessoal! Esperamos que todos estejam bem!

Hoje iniciamos as publicações sobre Cinema e Recepção, por meio de uma produção do Cinema Mudo italiano – Os Últimos Dias de Pompeia, de Ambrosio (1913).

Cena do filme Os Últimos Dias de Pompeia, de Ambrosio (1913). Imagem: Divulgação

Integrando o início do século XX, o filme se compõe em meio ao desenvolvimento das primeiras produções cinematográficas italianas, as quais tinham uma origem centrada em três grandes cidades: Roma, Turin e Milão. Seguindo o advento do desenvolvimento tecnológico internacional, seus primeiros produtores, como Arturo Ambrosio, muito prontamente alcançaram grande sucesso. Em tais obras de êxito mundial, tornou-se notável a presença de uma associação entre o passado romano e o presente italiano, pautando, como já vimos na publicação anterior, uma consciência histórica própria sobre a Antiguidade. Entretanto, devemos considerar que esta atenção ao mundo antigo era, também, parte das estratégias de divulgação desses filmes no mercado estrangeiro, segundo informa Bertellini (2017). Desse modo, as produções históricas sobre o mundo romano aliavam “ímpetos patrióticos, um gosto antiquário, e um sensacionalismo cultivado”, fazendo dos “épicos históricos os mais ambiciosos filmes produzidos pelas companhias cinematográficas de Roma e do norte italiano” (BERTELIINI, 2017, p. 35) – e, de igual modo, se configuravam enquanto o gênero característico do cinema da Itália. 

Logo, é nesse cenário que Arturo Ambrosio dirige e produz, através da Società Anonima Ambrosio, Os Últimos Dias de Pompeia, ou Gli Ultimi giorni di Pompei, no original. A obra, de 1913, como informa o documento oferecido pela Cinemateca Brasileira (2011), foi também exibida no Brasil nessa mesma época. Delineando uma breve sinopse de seu enredo, ressaltamos o drama amoroso vivido por Nídia, escrava apaixonada por ser senhor, Glauco. Ele, por sua vez, se envolve amorosamente com Jone, alvo dos olhares apaixonados de Arbace, um sacerdote de Ísis. Não podemos esquecer, ainda, do destaque conferido à erupção do Vesúvio, especialmente detalhado em suas cenas finais. Em meio à narrativa, observamos, então, sua inspiração no romance homônimo de Lytton, escrito ainda ao século XVIII e adaptado pelo roteirista Mario Caserini. 

Em ambas as produções, podemos evidenciar, por conseguinte, uma grande ênfase conferida ao culto isíaco. Seguindo os princípios do livro, analisados por Recio (2011), o filme constrói uma vinculação entre o templo isíaco e a idolatria, a maldade e a corrupção oriental, expressa notadamente na figura do sacerdote Arbace. Podemos ver, com mais detalhes, tais representações em duas cenas específicas, nas quais a materialidade da cidade de Pompeia realça tais qualificações junto à sua face mística. A primeira delas, Nelle grinfie del falco. Il templo del destino (Nas garras do falcão. O templo do destino, em tradução livre), centra-se nas falsas revelações feitas pelo sacerdote egípcio à Jone. Nela, temos um enquadramento centrado no espaço do templo, contendo uma estátua egípcia feminina de grande dimensão e inúmeras colunas postas em perspectiva, elementos que dividem a cena com as imagens das infidelidades de Glauco. Enquanto a segunda, I segreti di Iside (Os segredos de Ísis, em tradução livre), é mais emblemática: colocando em plano central uma estátua de Ísis (similar a que se  encontra no Museu di Napoli), mostra seus adeptos durante o culto, envoltos em uma aura mística. Este misticismo é reforçado, ainda, com a presença de dançarinas, cujos figurinos recordam, de igual modo, os afrescos preservados do Templo de Ísis. 

Sendo assim, notamos, nessas caracterizações do filme de Ambrosio, a construção de um ideal sobre o passado romano e sobre o desastre de Pompeia. Em meio a esse processo, a formação de uma percepção sobre o culto isíaco e sobre o mundo oriental aparece com grande relevância. Por meio dela, averiguamos a formação de uma relação própria com a materialidade da cidade romana, assim como com a obra literária de Lytton. Desse modo, Antiguidade e atualidade se articulam por meio do cinema, elaborando uma noção própria sobre a identidade dos cultos isíacos. 

Para os que desejarem, indicamos que a produção de Ambrosio pode ser assistida na íntegra através deste link: https://pt.esc.wiki/wiki/Gli_Ultimi_giorni_di_Pompeii. Bom filme!

Bibliografia consultada:

BERTELLINI, Giorgio. Silent Italian Cinema: A new medium for old geographies. In: BURKE, F. (Ed.). A Companion to Italian Cinema. Nova Jersey: John William & Sons, 2017. p. 31-47.

BRASIL. Ministério da Cultura. Secretaria do Audiovisual. Cinemateca Brasileira. JORNADA BRASILEIRA DE CINEMA SILENCIOSO, V, 2011, São Paulo.    

RECIO, M. R. El templo de Isis en Pompeya: Los restos que han nutrido un mito.  ARYS, v. 9, p. 229-246, 2011.

  • Heloisa Motelewski