Fábio Vergara Cerqueira e Maria Aparecida de Oliveira (Organizadores) – Estudos Sobre Esparta. (Editora UFPel, 2019)
Há poucos livros no Brasil que se dedicam a História de Esparta. Foi pensando nisso que Fábio Vergara Cerqueira e Maria Aparecida de Oliveira e Silva organizaram a obra, Estudos sobre Esparta, uma coletânea que reúne textos de estudiosos brasileiros e estrangeiros. O interessante do trabalho é que mescla textos em português, espanhol, francês e inglês, mas como tem uma linguagem clara e objetiva, atinge um público amplo desde acadêmicos e estudiosos até as pessoas que estão iniciando suas pesquisas ou que querem conhecer um pouco mais sobre o passado desse povo. Outro motivo para a leitura da obra é os autores e autoras se esforçam para trazer os aspectos cotidianos e culturais dessa sociedade: há capítulos sobre o período arcaico, o clássico, o helenístico e o romano, mudando nosso olhar sobre os espartanos e espartanas, pois para além da perspectiva guerreira, mais explorada na mídia ou livros didáticos, somos introduzidos a seus mitos, suas crenças religiosas, seu pensamento político e social.
Nascido em Pequim em 1957, filho de Ai Qing – um dos maiores poetas da China contemporânea e exiliado pelo governo comunista em 1958 – Ai Weiwei teve uma infância difícil com o desterro da família, com pouco acesso a produção cultural dada às proibições a que foram submetidos, mas isso não impediu que se tornasse um artista multifacetado. Poeta, arquiteto, curador, especialista em artesanato chinês antigo, editor, urbanista – é um dos idealizadores do estádio olímpico da China -, blogueiro e, acima de tudo uma importante voz libertária, um crítico social e ativista. Com esse perfil, seguramente sua vida é cercada de algumas prisões e, também, muitas obras polêmicas. Talvez uma de suas mais conhecidas por aqui seja a obra de 1995 em que derrubou, deliberadamente, enquanto foi fotografado, um vaso da dinastia Han (206 a.C a 220 a.C) em um ato crítico à chamada revolução cultural chinesa e às perseguições que se seguiram.
Pela primeira vez no Brasil com a exposição Raiz que reúne obras de vários momentos de sua carreira e de curadoria de Marcello Dantas, nosso blog não poderia deixar de registrar sua passagem. Não só porque partilhamos de sua ideia de que um blog permite ações culturais e trocas intensas entre pessoas de diferentes lugares e ideias, mas também porque entre as várias obras expostas tem uma em especial baseada na Odisseia. Isso mesmo, Weiwei tem uma obra inspirada nos poemas atribuídos a Homero! E é a ela que gostaria de dedicar esse post.
Em 2015, após ter recebido seu passaporte de volta, Weiwei foi a Europa pela primeira vez e não deixou de notar a crise imigratória instaurada. Tendo se estabelecido na Grécia por algum tempo, como ativista e crítico das mazelas humanas, fotografou e filmou as condições precárias em que as pessoas faziam as travessias e construiu, a partir de coletes salva vidas que os refugiados usavam para chegar a Europa, uma obra visualmente impactante. Essa obra pode ser vista na exposição Raiz, assim como um imenso painel que narra em preto e branco as jornadas dos refugiados, as guerras, a pobreza, as dificuldades das travessias e, também, a série de cerâmica que criou como suporte para a narrativa da precariedade da vida dessas pessoas. O prato de 2017 chamado A viagem, assim como os vasos empilhados, são objetos que colocam em paralelo a atual tragédia humana com a Odisseia. O contraste entre os coletes e os vasos, entre o passado – a origem da Grécia e, portanto, do Ocidente – e o presente – o deslocamento forçado – é profundamente tocante. Viagens duras, tempos diversos, sentidos contrastantes que chocam nossa percepção de mundo.
Em várias entrevistas a Obrist, Weiwei fala de como a antiguidade pode se transformar em arte contemporânea, em como é fundamental borrar as fronteiras do novo e do velho, do verdadeiro e do falso, de como é importante que as coisas possam ser mudadas. Todos esses aspectos se encontram nesse conjunto de obras. Se essas que comentei denunciam as guerras, a violência e o trauma, a obra Pneu, em mármore, é uma homenagem aos que arriscaram tudo para salvar suas famílias. Assim, trabalhando materiais importantes na cultura dos antigos gregos, como a cerâmica, a pintura vascular e o mármore, a narrativa de viagem, como a Odisseia, e mesclando com objetos atuais como coletes salva vidas e pneus, Weiwei cria um encontro único de temporalidades e narrativas, dores e angustias, de sobrevivência e esperança. Não é à toa que, ao ser perguntado por Orbist qual sua palavra favorita, respondeu: agir! As viagens retratadas em um diálogo entre passado e presente se configuram em ação, luta e busca pela liberdade!
Raiz já passou por algumas cidades e fica ainda no Brasil por mais um tempo. Está em Curitiba, no Museu Oscar Niemayer, MON, até 28 julho de 2019. Vai lá, vale a pena!
Renata Senna Garraffoni
Para saber mais:
Sobre a exposição Raiz no MON, curadoria de Marcello Dantas: