Hoje postamos um #tbt de quinta-feira passada, quando a professora Renata ministrou aula de maneira remota para os alunos do ensino médio do Colégio Unifev, no interior paulista.
O objetivo principal da aula foi realizar discussões sobre História Antiga, Arqueologia e a profissão do historiador e da historiadora com os alunos e alunas do Ensino Médio. Dessa maneira, além da exposição dos conteúdos, houve um momento apenas para responder questões sobre nosso ofício.
Reportagem do Jornal “A Cidade” de Votuporanga. Imagem: Divulgação.
Consideramos como importantíssima a interação entre os estudos acadêmicos e o Ensino Básico, afinal essa relação possibilita frutíferos avanços na expansão da História Antiga.
Para mais informações, o Jornal da cidade de Votuporanga publicou uma matéria sobre a aula. É só clicar aqui.
Oi gente! Com aproximadamente um mês sem aulas presenciais, nós e nossos colegas de profissão nos deparamos com diversas dificuldades relacionadas a educação à distância. Diante disso, no post de hoje sugerimos alguns vídeos que podem auxiliar o aprendizado da História antiga de maneira didática e até mesmo descontraída.
Esperamos que todos estejam bem.
Cena do vídeo “A day in the life of an ancient Athenian – Robert Garland” do canal TED ed. Imagem: divulgação.
TED ed
Como primeira indicação apresentamos aqui os vídeos criados pelo TED ed, canal criado pelo mesmo grupo produtor do TED talks, o qual possui o intuito de disseminar ideias e conhecimentos por meio de conferências de especialistas. A principal diferença do TED ed para o TED talks, é o foco educacional recebido, sendo o TED ed pensado de maneira didática para os estudantes em nível escolar e são realizados em forma de animação em curta duração (cerca de 3 a 6 minutos cada). Entretanto, não por isso são criados por qualquer pessoa. Os responsáveis pelo conteúdo apresentado nos vídeos a seguir são historiadores e literatos da área dos clássicos, por exemplo, Ray Laurence professor de História Antiga na Universidade de Macquaire na Australia e Melissa Schwartzberg professora de ciências políticas da Universidade de Nova York, e afiliada ao departamento dos clássicos da mesma.
O canal aborda diferentes áreas do saber, portanto preparamos duas playlists com os conteúdos que encontramos relacionados a Grécia e a Roma antiga, as quais podemos acessar nos seguintes links:
Vale lembrar que para quem não tem familiaridade com a língua inglesa, os vídeos possuem legenda em português disponível.
Crash Course
Com intuito semelhante ao do TED ed, encontramos o canal Crash Course. Considerado um canal educacional pelo Youtube, foi criado em 2012 pelos irmãos John e Hank Green a partir da iniciativa do próprio site em trazer canais e produções originais à plataforma. No Crash Course encontramos diversos conteúdos, bem como biologia, química, física, história e vídeos sobre o mundo antigo. Assim, como indicação especial, deixamos aqui a playlist intitulada de “World History“, onde encontramos vídeos sobre Mesopotâmia, Egito Antigo, Grécia Antiga, Alexandre, o Grande, Roma Antiga, entre diversos outros conteúdos.
Apesar dessa playlist ser apresentada por John Green, romancista criador dos best-sellers para adolescentes “A culpa é das estrelas”, “Quem é você, Alasca?” entre outros livros. Conforme observamos no fim dos vídeos, há uma equipe por trás da produção, pesquisa e escrita do conteúdo apresentado em que se encontram historiadores e outros especialistas.
Além disso, ainda que os vídeos estejam em inglês, sua tradução automática fornecida pelo o Youtube é de boa qualidade e a velocidade de reprodução do vídeo pode ser diminuída a partir da ferramenta disposta também pelo próprio Youtube.
Ainda no Crash Course há outra playlist intitulada de “Literature 2”, onde em seu primeiro vídeo encontramos a discussão da Odisseia.
Por fim, o canal ainda dispõe de outros conteúdos acerca dos povos gregos e romanos na playlist sobre Mitologia. Essa é apresentado pelo escritor e produtor Mike Rugnetta e pode ser acessada aqui.
Steve Simons
Cena do vídeo “Clash of the Dicers HD 2014” de Steve Simons. Imagem: divulgação.
No site Ellines, encontramos uma matéria sobre o artista britânico Steve Simons criador de animações a partir de cenas reais que decoram os vasos gregos antigos. Neste link, além de um pouco sobre a história de seu trabalho e do próprio artista, observamos três vídeos: o primeiro deles é uma cena de Aquiles e Ajax jogando durante uma pausa na Guerra de Tróia; no segundo observamos um combate entre guerreiros; e na terceira animação é representado uma cena entre Eros e Afrodite. Apesar de no site encontrarmos apenas três criações de Steve Simons, em seu canal do Youtube encontramos sua obra completa.
Remesal, “Testaccio, el Monte de las ánforas”
A próxima indicação é de um vídeo elaborado pelo CEIPAC (centro para el estudio de la interdependencia provincial en la antigüedad clásica) no qual o professor e historiador da Universidade de Barcelona José Remesal apresenta um conteúdo referente ao Monte Testaccio – uma colina artificial composta por pedaços de ânforas que foram descartadas entre os séculos I e III. O vídeo mostra imagens sobre o trabalho arqueológico que é feito na região, como a tipologia de ânforas e a escavação do monte, e principalmente nos leva a reflexões acerca das questões econômicas e sociais da produção e abastecimento de alimentos, neste caso, o azeite no Império Romano.
O professor Remesal fala em espanhol e infelizmente não há legendas disponíveis para o vídeo.
Entrevistas
Além dos vídeos já apresentados, indicamos também três entrevistas sobre a História Antiga. Primeiramente começamos com duas entrevistas do Historiador e Arqueólogo Pedro Paulo Funari, professor de História Antiga da UNICAMP.
A primeira delas foi realizada pelo grupo de pesquisa Subalternos e Práticas na antiguidade, da USP, em comemoração aos trinta anos da publicação do livro Cultura popular na antiguidade. Funari relata a respeito do contexto em que escreveu o livro, no período de redemocratização após a ditadura militar e como isso foi decisivo para o conteúdo e formato da obra. Ainda discute a utilização de fontes diretas para o estudo da cultura popular na antiguidade, como por exemplo os grafites parietais. E, por fim, trata sobre a situação dos estudos subalternos na atualidade.
A segunda entrevista foi realizada pela UNIVESP, tendo como entrevistadora a jornalista Mônica Teixeira e suscita discussões acerca da fronteira entre as áreas da História e Arqueologia. Funari traz reflexões acerca das duas disciplinas e realiza apontamentos sobre as fontes históricas e as divergências entre as abordagens das fontes escritas e da cultura material. Dessa maneira apresenta reflexões sobre a constituição da História e da Arqueologia como campos disciplinares distintos e a importância da interdisciplinaridade.
Por fim, o professor Funari muda de posição e de entrevistado passa a ser o entrevistador no programa “Diálogo sem Fronteira – História Antiga e nosso cotidiano”, onde entrevista a professora Renata Senna Garrafoni pela rTV Unicamp. Nessa entrevista é discutido temas como a relevância do estudo da antiguidade no século XXI; de que maneira nós brasileiros temos acesso as informações sobre esse passado clássico; qual a relação da História Antiga com a mídia e a preocupação com a veracidade do que se é apresentado por filmes; de que forma nossa sociedade vê os antigos e ainda quais são as especificidades e contribuições dos pesquisadores e pesquisadoras brasileiras para os estudos dos clássicos.
Instagram Os Sentidos da História
Imagem de perfil do Instagram Os Sentidos da História. Divulgação.
Como última indicação, deixamos o Instagram do professor Marcos Moraes. Recém-criado, o perfil tem como intuito difundir e discutir criticamente o conhecimento histórico nas redes sociais. O professor Marcos dá aula no ensino fundamental há mais de uma década e é formado em História pela UNICAMP.
Fábio Vergara Cerqueira e Maria Aparecida de Oliveira (Organizadores) – Estudos Sobre Esparta. (Editora UFPel, 2019)
Há poucos livros no Brasil que se dedicam a História de Esparta. Foi pensando nisso que Fábio Vergara Cerqueira e Maria Aparecida de Oliveira e Silva organizaram a obra, Estudos sobre Esparta, uma coletânea que reúne textos de estudiosos brasileiros e estrangeiros. O interessante do trabalho é que mescla textos em português, espanhol, francês e inglês, mas como tem uma linguagem clara e objetiva, atinge um público amplo desde acadêmicos e estudiosos até as pessoas que estão iniciando suas pesquisas ou que querem conhecer um pouco mais sobre o passado desse povo. Outro motivo para a leitura da obra é os autores e autoras se esforçam para trazer os aspectos cotidianos e culturais dessa sociedade: há capítulos sobre o período arcaico, o clássico, o helenístico e o romano, mudando nosso olhar sobre os espartanos e espartanas, pois para além da perspectiva guerreira, mais explorada na mídia ou livros didáticos, somos introduzidos a seus mitos, suas crenças religiosas, seu pensamento político e social.
Pedro Paulo Funari possui ampla experiência em História Antiga e Arqueologia Histórica. Renata Senna Garraffoni, professora de História na UFPR, e parte do grupo deste site, ocupou-se com a relação entre os antigos e a modernidade. Nesse sentido, o texto “Considerações sobre a busca do Antigo no Brasil”, elaborado e escrito por Garraffoni e Funari, apresenta uma proposta reflexiva sobre o estudo da Antiguidade no Brasil, dando ênfase a uma nova perspectiva sobre o assunto. Segundo os autores, essas transformações ocorrem devido à quebra de uma percepção Imperialista europeia, que estigmatizava o “Oriente” como inferior a partir de concepções eurocêntricas. No cenário brasileiro, estes historiadores apontam para uma renovação do ensino de História Antiga no país. Segundo eles, o diálogo entre especialistas de diversas áreas é visível e crescente e colaborou para essa transformação nas abordagens.
A História Antiga, comentam, é discutida por profissionais brasileiros desde o início da década de 1960. No entanto, essa discussão neste momento não era muito aprofundada. Com o início da ditadura, políticas institucionais limitaram a atuação dos setores de Ciências Humanas, dificultando o já escasso estudo da Antiguidade. Garraffoni e Funari afirmam que, após a abertura política, novas perspectivas se apresentaram para o ensino da História Antiga. Eles apresentam, também, como debates foram essenciais para que se questionasse ideias e dicotomias já consolidadas na academia brasileira, como a noção de um “Mundo Ocidental” (europeu e civilizado), em oposição a um “Mundo Oriental” (bárbaro e inferior), como criticou e colocou em evidência o pensador Edward Said (1978) e também o conceito de “romanização”, problematizado por Richard Hingley (1996).
Finalmente, a proposta de se repensar o discurso historiográfico, tendo em mente a contextualização e ponderação sobre a produção de conhecimento, é exposta pelos autores. Segundo eles, podemos buscar distanciamento das tradicionais dicotomias utilizadas para explicar o mundo romano (civilizado/bárbaro, homem/mulher etc). Há a possibilidade, também, apontam, de buscarmos compreender e estudar como operam os usos políticos da antiguidade na atualidade.
Referência FUNARI, Pedro Paulo; GARRAFFONI, Renata Senna. “Considerações sobre a busca do antigo no Brasil.” In: A Busca do Antigo. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2011.Referências